Anônimos ou famosos, eles são muitos. Com a chuva histórica que atinge o Rio Grande do Sul, uma rede de voluntários foi formada. São pessoas que doam tempo, dinheiro e mantimentos para ajudar na reconstrução das famílias atingidas. A partir delas, a solidariedade se manifesta em inúmeras ações que têm origem em diferentes partes do mundo.
“O povo de Santa Maria ensina a ser solidário”
Em Santa Maria, centenas de pessoas têm dedicado parte do tempo para ajudar, como fazem Bruna Costabeber Guerino, 34 anos, e outras voluntárias. Há quatro anos, ela criou o projeto Corrente do Bem, que carrega a solidariedade no nome. A iniciativa, realizada em parceria com Fabiana Marçal Barbosa, 40 anos, tem ajudado inúmeras famílias santa-marienses desde a última quarta-feira. Até o momento, já foram mais de R$ 60 mil e seis toneladas de doações que chegaram de todo o Brasil. As doações são organizadas e separadas por um grupo composto por cerca de 50 pessoas em um espaço da Escola Municipal Maria de Lourdes Ramos Castro Alves, na Vila Maringá.
– O projeto se responsabiliza pela arrecadação, separação e distribuição das doações. Um dos nossos pilares da corrente é chegar nas famílias, então, todas as entregas são feitas por nós. Nas entregas, ver o sorriso no rosto das famílias é algo que não tem explicação. E o que eu destaco muito é o sentimento de solidariedade que a população daqui tem. O povo de Santa Maria ensina a ser solidário – afirma Bruna.
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Uma forte corrente do bem também é formada no Centro Desportivo Municipal (CDM), que abriga famílias desalojadas por conta da chuva. No espaço, centenas de voluntários auxiliam diariamente na separação e organização das doações que chegam. Uma dessas pessoas é a Júlia Zanon, 23 anos, que desde a última quinta-feira quando foi ao local levar doações e resolveu ficar para ajudar na organização de kits de roupa e cesta básica:
– A gente não pode ajudar todo mundo, mas todo mundo pode ajudar alguém. E ficar parado sem fazer nada estava me deixando ansiosa. Qualquer ajuda, mesmo sendo pouco, é alguma coisa. Estar lá é muito gratificante – afirmou.
Ao contrário da Júlia, que dedica parte do seu tempo ao voluntariado no CDM, a piercer Gabriella Cargnelutti tem procurado ajudar no que pode, sem lugar fixo. Foi a forma que encontrou de fazer a diferença. Com a ajuda de profissionais que colocam piercing em outros Estados, o dinheiro é arrecadado e logo revertido em diversas doações como cestas básicas, ração, roupas e lanches que estão sendo entregues em bairros afetados de Santa Maria e 4ª Colônia.
– Nós, piercers, somos muito unidos e eu pedi para que as pessoas usassem da influência delas para mostrar o que estava acontecendo aqui. Eu tenho muitos colegas de diferentes Estados que estão arrecadando doações e levando até os Correios e a Base Aérea. Outros estão destinando parte do valor recebido no trabalho para ajudar o Rio Grande do Sul.
A ideia é que o dinheiro e as doações não fiquem parados. Por isso, diariamente, Gabriela está em diferentes pontos da cidade para auxiliar quem precisa. Para ela, é um trabalho de formiguinha, mas que faz a diferença:
– Toda ajuda é válida. Também precisamos entender que não conseguimos abraçar o mundo, é entender que se cada um fizer um pouquinho, a gente pode fazer a diferença. Claro que dentro das nossas limitações e nosso corpo. É preciso estar bem porque essas pessoas vão precisar de ajuda por muito tempo ainda porque estão reconstruindo suas vidas.
Famosos promovem ações solidárias
A corrente solidária ao estado gaúcho une o país. De norte a sul, brasileiros participam de campanhas diversas que tem um único objetivo: auxiliar as pessoas atingidas pelas chuvas. No último boletim da Defesa Civil estadual, divulgado às 12h desta sexta-feira (10), o Rio Grande do Sul já registrava 116 mortes e mais de dois milhões de pessoas foram atingidas.
Entre as ações estão campanhas de arrecadação coletiva, envio de mantimentos aos municípios gaúchos e até a organização de shows beneficentes, com o valor dos ingressos revertido para as pessoas atingidas. Com a mobilização de famosos e anônimos que contribuem com as iniciativas, já são milhões de reais arrecadados e toneladas de alimentos enviados ao Rio Grande do Sul.
Só o humorista gaúcho Badin - O Colono já alcança o número de R$ 65 milhões em doações desde que a ação iniciou, em 1º de maio. O recurso será destinado ao auxílio de famílias, abrigos e instituições afetadas pelas enchentes em todo Estado. Cada meta alcançada tem sido comemorada pelo humorista nas redes sociais. Já a gaúcha natural de Tuparendi, Luísa Sonza, tem usado das redes sociais para divulgar informações sobre como ajudar. A cantora também pretende realizar um show beneficente para arrecadar fundos para ajudar as famílias que perderam suas casas.
Há também famosos que colocaram a “mão na massa”. Os surfistas Pedro Scooby e Lucas Chumbo, juntamente com uma equipe especializada em salvamento, vieram ao Rio Grande do Sul para auxiliar nas operações de resgate. Utilizando jet-skis, eles resgataram pessoas e animais afetados pelas enchentes.
A solidariedade também tem sido percebida fora do Rio Grande do Sul. O influenciador Whindersson Nunes arrecadou R$ 3 milhões em uma campanha e afirmou que todo o valor deve ser destinado a ações de apoio às vítimas. Ele também pediu ao Vasco, no X (antigo Twitter), para que o clube lhe emprestasse o estádio São Januário, no Rio de Janeiro, para uma apresentação dele em prol das vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul. O clube publicou que aceitava o convite pouco tempo após a solicitação.
Assim como Whindersson, o atacante Neymar também tem mandado doações para o estado. Na última segunda-feira (6), o jogador enviou um avião com pouco mais de duas toneladas de donativos. As doações aterrissaram no Aeroporto de Santa Maria e foram distribuídas para a população do município e região.
Natural de Horizontina, no Rio Grande do Sul, a modelo internacional Gisele Bündchen usa da influência e alcance nas redes sociais para pedir apoio:
– Meu estado natal, o Rio Grande do Sul, teve a pior tragédia da sua história. Fortes chuvas inundaram cidades inteiras. As pessoas não estão apenas perdendo suas casas e seus empregos. Elas estão perdendo tudo. Há muitos ainda a serem resgatados. E o mais triste é que vidas foram perdidas. É doloroso. É de partir o coração. Então, por favor, junte-se a mim na tentativa de ajudar – compartilhou Gisele em vídeo nas redes sociais.
O apelo da modelo foi compartilhado por Elon Musk, que anunciou a doação de mil terminais da Starlink, que oferece internet via satélite, para auxiliar as equipes de resgate.
Ajuda chega de outras partes do mundo
A solidariedade tem superado fronteiras e já chega ao outro lado do mundo. Famosos e anônimos que moram no exterior também se mobilizam. São auxílios que chegam em forma de doações em dinheiro, ajuda humanitária e envio de aviões com mantimentos. Com o alto número de doações vindas de fora do país, a Receita Federal anunciou que todas serão isentas de impostos. Dia após dia, a lista de ações cresce cada vez mais:
- O Vaticano confirmou, na quinta-feira (9) que o papa Francisco destinou 100 mil euros para ajudar as vítimas da enchente histórica no Rio Grande do Sul.
- A organização sem fins lucrativos Beygood, fundada pela cantora Beyoncé, realiza uma parceria com a Central Única das Favelas (CUFA), que tem realizado ações de apoio ao estado. Em publicação, a instituição compartilhou formas de doar no Brasil e no exterior.
- O britânico Louis Tomlinson, ex-integrante da banda One Direction, postou em seus stories que fez uma doação de suprimentos de urgência para as vítimas das enchentes. O cantor também vai disponibilizar pontos de coleta de doações em seus shows no Brasil, em Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, nos dias 8, 11 e 12 de maio, respectivamente.
- A solidariedade ao RS também veio do automobilismo. O tricampeão mundial de Fórmula 1 Max Verstappen e sua namorada, Kelly Piquet, fizeram a doação de uma camisa autografada. A iniciativa pretende arrecadar US$ 500 mil em leilões de peças raras e exclusivas.
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